O Mito do Observador

Por definição, o observador sem conhecimento prévio do objeto observado, nenhuma conclusão pode tirar daquilo. Independente de quanto tempo ele empregue a sua tarefa.

 

Por exemplo: Um cidadão, sem nenhum conhecimento teórico de medicina, não se torna um médico, apenas por ter assistido sessões ininterruptas de tomografia computadorizada. Sem saber o que procurar, toda a observação e tempo investido na obra, são inúteis. 

 

O exemplo acima parece esdrúxulo, já que poucos se dariam a arrogância de se julgarem especialistas em medicina sem estudo prévio.

 

No entanto, com os esportes e, consequentemente com as apostas, algumas pessoas se julgam grandes especialistas apenas por terem dedicado horas a uma observação imprecisa. Julgam-se grandes especialistas por conclusões tiradas muitas vezes com a ajuda da pífia e nada inteligente mídia esportiva ou de suas próprias crenças. Baseadas muitas vezes em analises simplesmente subjetivas, das quais as conclusões patéticas, eles levam como verdade imutável.

O irreverente Neto

Uma análise baseada em estatísticas, utilizando curtos períodos de amostra ou estatísticas que não servem para contextualizar o ocorrido, é imprecisa e de pouco valor. Ainda mais imprecisa e de menor valor é a análise feita através da pura e simples observação de eventos esportivos, dos quais nenhum ser-humano é capaz de desprender atenção suficiente para todas as nuances de uma partida e nem mesmo acompanhar todos os momentos de um jogador durante a temporada.

 

Auto-julgar se capaz de compreender tudo que ocorre em um evento esportivo é não apenas pretensioso, mas um comportamento extremamente arrogante. Arrogância essa que é frequentemente usada como termo para desacreditar qualquer analista estatístico.

 

Análises estatísticas que encontram resistência na crendice popular acerca de um determinado jogador ou time são muitas vezes rechaçadas com comentários que questionam o analista acerca de seu entendimento sobre o esporte. Analisar atletas utilizando números é visto como algo profano pelos mesmos que se julgam observadores atentos e qualificados acerca de seus esportes.

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Seja qual for o esporte, ninguém assiste a todas as partidas, ninguém acompanha com especial atenção todos os momentos de um atleta específico. No geral, as pessoas tendem a acompanhar os jogos de prime-time no – caso dos esportes americanos – e tendem a tirar as suas conclusões baseadas apenas em seu curto período de observação. Entre uma twitada e outra, em grandes lances ou em gritos mais eufóricos dos narradores, acreditam que estão vendo toda a essência do ocorrido, enxergando tudo que há para ser visto naquele momento. Esquecem que um snap no futebol americano, um arremesso no basquete ou uma rebatida no baseball, são eventos aleatórios se não considerarmos toda a amostragem. Glorificam os heróis do prime-time, os jogadores que se destacaram em lances específicos, sem serem capazes de analisar o todo de um atleta. Pior ainda, acreditam que o que seus olhos destreinados enxergaram, é não apenas a verdade, mas também a tendência para as próximas partidas.

 

A compilação de estatísticas em esportes profissionais tem crescido a cada dia. Com trabalho árduo, analistas foram capazes de contextualizar o que acontece dentro de um campo ou uma quadra, como também foram capazes de desvendar quais aspectos são mais importantes para a resolução final de um evento esportivo. Com isso, foram capazes de chegar a conclusões muito mais precisas do que as que os olheiros entregaram em toda a sua carreira. Este trabalho tem sido recompensado pelas equipes profissionais, que cada vez mais buscam pessoas de fora do esporte e dão a elas, voz ativa na montagem das equipes. Do lado de fora, a velha guarda dos esportes, formada por comentaristas esportivos, narradores, torcedores e, infelizmente, boa parte do apostadores – preguiçosos demais para assimilarem os novos conceitos. Seguem cultuando a ignorância coletiva.

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Grandes analistas, mais próximos da verdade do que muitos os que vivenciaram a rotina dos esportes, são postos de lado nas transmissões esportivas e nas discussões de bares, quando muito, são apenas os caras chatos dos números. Que ganham espaço até que um jogador medíocre, decida um jogo de prime-time e acabe com a falácia dos números.

 

No futuro, os simples observadores, aqueles que já bêbados demais no meio de um evento esportivo, vociferam o quão bom é um atleta baseado única e exclusivamente no lance que seus olhos pouco virtuosos foram testemunha, serão jogados no em seus lugares de direito. O limbo dos esportes profissionais.

 


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Autorzambrano
data24/11/2015


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PJ Pires

Data2015-12-05 12:53:49

Onde eu assino? Que texto show de bola. É assim mesmo, sempre tem uma pá de gente que só sabe dar palpite e que nunca bota um $ do bolso para corroborar sua opinião. Mas aqui, essa foto do Neto aí é porque ele sabe o que fala né? Valeu garotin, PJ

Jean Pierre

Data2015-11-27 05:01:29

Excelente texto .. Estou exatamente nesse processo agora, de tentar achar quais fatores e números tem maior influência em cada esporte, não é fácil. Você sabe que existe muitos fatores que influênciam um evento , o difícil é ponderar o nível de influência de cada um, aos poucos estou evoluindo mas ainda falta bastante. Assim como Zambrano, curto todo tipo de esporte desde Curling que eu admiro por ter estratégia apesar da maioria achar bem chato, kkkkk, até os mais tradicionais como Futebol e F1, basquete que assisto desde criança. Os Americanos acompanho mais a NBA, mas de 1 ano pra cá comecei a observar mais Baseball, Futebol americano e hóquei. Além do tennis também. Porém ainda estou longe da desejada eficiência..

felipe

Data2015-11-26 22:02:15

Muito bom, um tapa na cara de muita gente ai hehe! Parabéns pelo conteúdo.

Gustavo Zambrano

Data2015-11-25 16:57:10

Obrigado, Israel.

israel

Data2015-11-24 23:28:09

Ótimo texto ,bem interessante

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